O sonho irlandês

Eu nunca soube muito bem como isso começou, meu melhor palpite é que foi quando eu achei um livro aqui em casa, um livrinho normal e infantil, que reunia histórias típicas de vários países mundo afora sobre senhoras idosas muito sábias. Eu estava futricando os livros da minha mãe e o encontrei, desde a primeira história me apaixonei e logo quis ler o resto, foi quando encontrei o sonho da minha vida lá pelas cinquenta e poucas páginas. Não, eu não estou exagerando. A história era sobre uma mãe e sua filha que passavam o dia inteiro trabalhando nos campos e que um dia chegaram muito mais cansadas do que o habitual, a filha bondosa, resolveu cortar maçãs e queijos para jantarem e encher e encher uma tina com água quente para que pudessem relaxar. Eu não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu depois, se quiser ler a história você pode comprar o livro aqui pela Livraria Cultura, mas enfim. O fato é que eu fiquei absolutamente encantada com aquilo, e como vocês ainda vão descobrir, meus devaneios vão longe. Imaginei que eu tinha uma casa em um vasto e verde campo na Irlanda, onde eu plantaria minha própria comida e viveria feliz para sempre. Imaginei eu chegando em casa depois de um dia de trabalho, o sol se pondo no horizonte enquanto eu preparava café amargo e biscoitos e sentaria em uma cadeira de madeira sentindo a brisa do fim do dia. Pensei em como seria bacana costurar minhas próprias roupas, lojas pra quê? Eu iria até Dublin comprar tecidos e costuraria vestidos, não seriam muito bonitos no início, mas logo com a prática eu estaria fazendo lindas roupas de seda e cetim. Quando chegasse em casa, com tecidos em mão, tiraria a torta de amora do forno e um ar adocicado se espalharia pela cozinha, eu olharia a casa de madeira a minha volta e agradeceria a vida que tinha, não antes de colher um trevo de três folhas, claro.